Avança para águas mais profundas — Um caminho a seguir

Nova Berith
7 min readApr 26, 2022

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Por Thiago Vieira — Comunidade Católica Nova Berith*

Começamos aqui a série de pregações sob a luz da Carta Apostólica “No Início do Novo Milênio”, escrita por São João Paulo II. Nos próximos meses, outros irmãos trarão reflexões sobre diferentes aspectos desta carta. Quando comecei a preparar essa pregação, durante a adoração da Quinta-feira Santa, o Senhor me deu uma visualização de uma estrada de mão única e faixas brancas. Eu rezava e pedia a Deus a graça de que esse era o entendimento do início deste texto de reflexão.

O Senhor nos fala da estrada, de um novo caminho, de um novo percurso, de uma nova trajetória a ser percorrida junto com toda a Igreja. E rezando e entregando nas mãos de Deus, quando iniciei a leitura do documento vi a terceira frase da Carta Apostólica e lá está escrito: “Um novo percurso de estrada se abre para a Igreja” e eu já entendia que o Senhor queria falar desse caminho, de passagem, de continuidade, de não se manter parado.

Foto: Wirestock — Freepik.com

Em uma estrada, nós precisamos sempre recordar por onde nós passamos, para desviar dos perigos, precisamos também viver com paixão o presente, viver com fervor aquilo que nos é apresentado e estar abertos na confiança de Deus sobre o futuro, sobre as faixas que virão, sobre as novas formas de estrada que virão, no nosso caminho. Por qual motivo nós caminharíamos se não for para encontrar o nosso amado, ressuscitado, vivo, glorioso, Rei.

Nessa estrada nós vamos com a Igreja e nós precisamos dizer, juntamente com a Igreja e com o Espírito Santo: “Maranatá! Vem, Senhor Jesus!”. Enquanto nós dizemos isso, projetamos esse futuro da estrada que é o encontro com o ressuscitado e temos também muitas oportunidades de viver o agora, o presente. E o que é o agora? O agora acontece para nós como oportunidades de recomeço, de realizar, de fazer. O agora é o único tempo que é imutável, ele não muda, ele nem passou, nem ainda passará, ele está acontecendo. É no agora que estão as oportunidades de conversão, as oportunidades de recomeço.

Vejamos bem a luz que iluminou a Carta Apostólica “No Início do Novo Milênio”, na Palavra, que é a passagem do evangelho de São Lucas, capítulo 5, em que Jesus encontra os pescadores — que em um futuro próximo se tornariam seus discípulos — Pedro, André, Tiago e João, que haviam pescado o dia inteiro, mas não tinham conseguido nada. Quando Jesus fala “Entremos com a barca”, Ele entra com a barca e diz a Pedro “Lança as redes”. Se Pedro tivesse dito: “Não Jesus, espera aí 5 minutos, deixa só eu descansar porque eu já passei agora o dia inteiro tentando e não veio nada” ou se Pedro tivesse pensado inúmeras possibilidades de descontinuar aquele ato no agora, talvez ele não tivesse feito aquela pesca milagrosa.

Foto: Reprodução — Pixabay

São muitas coisas que nós às vezes perdermos as oportunidades de viver, porque nós adiamos, ou nós programamos ao nosso favor, à nossa vontade. A estrada é contínua, ela acontece e precisamos viver cada passo agora.

Não podemos esquecer que não estamos sozinhos neste percurso. Somos um povo. Nessa estrada são muitos carros e irmãos que andam conosco, que nos ajudam, que nos auxiliam nesse caminho.

São João Paulo II nos diz: “É principalmente na realidade concreta de cada Igreja que mantém um único povo de Deus, onde se assume a configuração particular que torna ardente, que torna aderente as diversas, os diversos contextos e culturas”.

São João Paulo II, ao escrever a carta apostólica, nos pede para voltar o nosso olhar para o centro da nossa Igreja, na nossa Igreja particular. Então, assim, voltar o nosso olhar ao nosso bispo, ao nosso pároco, aos nossos fundadores, aos nossos coordenadores, para vivermos o que é a escuta da palavra, a união fraterna e a fração do pão.

É ao redor da Igreja, do bispo, do pároco, dos fundadores, dos nossos coordenadores, que nós vamos ouvir a Palavra e vamos pôr em prática. Como em uma estrada de vários carros e como um só povo, nós damos continuidade, dizemos “sim” à Igreja, estamos disponíveis para caminhar com ela.

Em Lucas capítulo 22, versículo 43, na oração de Jesus no Horto das Oliveiras, na hora decisiva, diz assim: “Apareceu-lhe um anjo do céu que o fortalecia”. Se Jesus que era Jesus recebeu um anjo que precisou o fortalecer quando ele suava sangue no Horto das Oliveiras, imagine quanto a nós, filhos, frágeis. Não estamos sós. Estamos unidos como Igreja, como um só povo, estamos unidos também como seres espirituais com os anjos da guarda, como os santos que intercedem por nós. Somos um só povo e devemos contemplar juntos um único horizonte, um horizonte que não falha, que não turva a nossa vista, um horizonte que é real. Não estamos sós.

Continuando na analogia com a estrada, precisamos viajar com a alegria do nosso coração, então, a recordação de Cristo é a primeira marcha que nós precisamos utilizar, que é a fonte da alegria do nosso coração. Em nosso caminho nós também temos placas, temos postos onde nós colocamos o combustível para continuarmos caminhando e para isso São João Paulo II nos deu prioridades pastorais na Carta Apostólica que servem de combustíveis para nós. São sete prioridades pastorais:

1. A primeira prioridade pastoral é santidade. É o horizonte que nós devemos olhar, que não tem fim. São João da Cruz fala que no contexto de comunidade nós temos todas as oportunidades para nos santificar. Os irmãos nos ajudam nisso: nas formações, nas correções, nas alegrias. Nesta primeira prioridade pastoral chegou a hora do novo, de tomarmos essa medida alta para darmos continuidade e termos gás para suportarmos todos os desafios dessa estrada.

2. A segunda prioridade pastoral que São João Paulo II nos diz é a oração. No diálogo com Jesus nós nos tornamos íntimos, amigos íntimos dEle, e essa é uma experiência que condiciona nossa missão. Sem a oração nós não conseguimos caminhar. É um caminho também que visa aquele horizonte da santidade, é um caminho que nos leva a uma união esponsal.

3. A terceira prioridade é a eucaristia dominical. É um empenho máximo na liturgia, uma participação ativa, consciente e plena do que acontece no altar de Deus. O mundo moderno realiza muitas festas sem motivos, porém nós temos o motivo real da nossa festa dominical: É Páscoa! É Cristo ressuscitado!

4. A quarta prioridade pastoral é o sacramento da reconciliação. Nós precisamos redescobrir o sentido do pecado. O pecado é uma recusa de Jesus, porém é neste mesmo Jesus, no crucifixo, onde nós entendemos o nosso pecado, nos tornamos conscientes das nossas faltas, porém já saímos imediatamente irrigados pela misericórdia. Neste encontro com Jesus, que o padre in persona realiza no sacramento da reconciliação, nós automaticamente saímos remidos e mergulhados dentro da misericórdia de Deus, não importa a gravidade do nosso pecado.

5. A quinta prioridade pastoral que São João Paulo II nos fala é o primado da graça. Sem Cristo nada podemos fazer. Precisamos fugir do risco de deixar de confiar em Deus para confiar nas nossas boas ideias. Nós temos boas ideias, nós somos inteligentes, no entanto, Deus tem a ideia suprema, que vem pela graça dEle. Se guiar pela inspiração em Deus, no que Ele disser é nos livrarmos de algo que nós podemos fazer de grandioso, porém sem utilidade. Se Deus nos manda lançar a rede à direita, que nós lancemos à direita.

6. A sexta prioridade pastoral é a escuta da Palavra. Os santos são santos porquê rezam com a Palavra. A Lectio Divina é o entendimento da Palavra na minha vida, no meu contexto, no contexto da comunidade, no contexto do meu grupo de oração, no contexto do meu ministério, é rezar com a Palavra e tirar da Palavra, escutar da Palavra o que o Senhor quer, o que o Senhor nos pede.

7. E a sétima prioridade pastoral é o anúncio da Palavra. Agora sim, o serviço. Veja só quantas etapas até chegarmos ao serviço, ao ato do apostolado, ao ato da nossa entrega a Deus, ao compromisso de dar a vida a Deus, de se desgastar e de se consumir por amor ao reino.

Pra ter no coração uma missionaridade, é preciso viver essas etapas da santidade, da oração, da eucaristia, da confissão, do primado da graça, da escuta da Palavra porque se o coração não arder, os pés não andam e para servir é preciso andar. Para estar nesta estrada é preciso andar, é preciso seguir. Mas para andar, o primeiro combustível é a alegria do coração, esse coração precisa arder e para arder nós precisamos olhar, fitar o horizonte da santidade, precisamos escutar a Deus na oração, deixar ser guiado pela graça, precisamos comungar da eucaristia, precisamos ter consciência da ressurreição de Cristo, e tendo essa consciência precisamos saber que ele nos remiu, e para isso nós temos a confissão, e precisamos ouvir o que Ele nos escreveu. Deus abençoe.

* Thiago Vieira é consagrado de aliança da Comunidade Católica Nova Berith, casado e médico.

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